30 de maio de 2007

Autobiografia de Gandhi - Parte 7



30/05/2007

Continuando com a autobiografia de Gandhi....

Em sua autobiografia Gandhi descreve com detalhes o movimento conhecido como SATYAGRAHA que teve início na África do Sul.

Segundo ele a Satyagraha não foi pré concebida mas sim espontânea. “Satyagraha had not been a preconceived plan. It came on spontaneously.”

Na guerra do Bôer na África do Sul, Gandhi organizou uma corporação de voluntários e participou ativamente. Após a guerra resolveu retornar a Índia.

Gandhi queria que os indianos superassem sua compulsão por jóias e se recusou a dar as jóias para a esposa, que havia ganho de presente. Kasturba ficou muito enfurecida e lhe disse que ele estava tornando os filhos em sadhus. “You who are trying to make sadhus of my boys… ” Posteriormente Gandhi vendeu todas as jóias de sua esposa e a proibiu de usar jóias.

Gandhi retornou a Índia e em 1901 participou pela primeira vez de uma reunião do Congresso (partido político que existe até hoje e ao qual pertence o atual Primeiro Ministro indiano).

Gandhi se implicou tanto com o mau cheiro e sujeira das latrinas durante a reunião do Congresso em Calcutá, que ele mesmo resolveu limpa-las. Outra coisa que Gandhi observou é que os políticos do partido Congressista não utilizavam as latrinas durante a noite e mijavam e cagavam em qualquer lugar inclusive nos arredores do dormitório e o cheiro era insuportável.

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No capítulo UM MÊS COM GOKHALE-II, Gandhi apesar de hindu, ficou chocado com o que viu no templo de Kali em Calcutá e descreve no livro o seguinte “I saw a stream of sheep going to be sacrificed to Kali..... We were greeted by rivers of blood.... I felt that the cruel custom ought to be stopped….the life of a lamb is no less precious than that of a human being.” Gandhi não suportava crueldade contra animais e para ele o valor da vida era o mesmo tanto para um humano quanto para um animal pois ambos são criações divinas. O costume hindu de sacrificar cordeiros, bodes etc. desagradava muito Gandhi que achava tudo desnecessário e primitivo.

Pois é caro leitor, na Índia a vaca é sagrada mas as ovelhas, cabras, carneiros, bodes, galinhas, etc. entram na faca sem dó nem piedade!!!!

Eu mesma já estive no templo de Kali em Calcutá e não gostei. O sacerdote hindu que estava atuando como guia turístico do templo me mostrou a pedra do altar de sacrifício, mas disse que pararam com os sacrifícios há mais de 10 anos. O lugar é tétrico, tem uma energia estranha e como Gandhi disso prefiro não lembrar embora não consiga esquecer. “I have never forgotten that sight.”

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Gandhi resolve conhecer a Índia e fazer uma longa viagem pelo pais. Ele passou muitos anos fora, na Inglaterra e na África do Sul e não conseguia mais entender e se enquadrar no arcaico modo de vida indiano.

Ele resolveu que viajaria de 3 classe e descobriu que era horrível, as pessoas jogam lixo no chão do trem, fumam, cospem, falam em voz alta e usam palavras de baixo calão.

Este capítulo chama-se BENARES e Gandhi mais uma vez se decepciona em sua viagem a Benaras, a cidade mais sagrada de todas, a mais famosa e segundo Gandhi suja e barulhenta. Benaras é conhecida atualmente pelo nome de Veranasi.

Os indianos adoram mudar os nomes das ruas, cidades etc. Os nomes mudam mas as péssimas condições de vida continuam....

Gandhi resolve ir morar em Mumbai mas novos problemas aparecem na África do Sul e ele resolve voltar para lá mais uma vez.

Já na África do Sul Gandhi declara “During my first sojourn in South África it was Christian influence that had kept alive in me the religious sense. Now it was theosophical influence.” Durante minha primeira temporada na África do Sul foi a influencia cristã que manteve meu senso religioso vivo. Agora foi a influencia teosofica.

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No capítulo RESULTADO DE INTROSPEÇÃO Gandhi declara ter fé no Gita e tentou decorar um ou dois versos deste todos os dias.

Ele termina este capítulo concluindo “what a terrible responsability it is to be a parent”. Que responsabilidade terrível é ser pai.

Ele gostava dos filhos, mas a verdade é que estando na vida pública, ter que cuidar de crianças, atrapalhava. Depois que ele entrou para a vida pública, percebi em sua narrativa que preferiria não ter tido filhos (pois seria uma preocupação a menos).

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Gandhi fez experimentos na área da saúde com tratamentos de lama e água. Ele também seguia o tratamento Kuhne.

Quando seu filho Manilal de 10 anos adoeceu o médico receitou uma dieta com ovos e canja mas Gandhi sendo vegetariano não permitiu que o filho comesse estes alimentos.

Quando ele mesmo (Gandhi) adoeceu, ele começou a tomar leite de cabra para se recuperar.

Os indianos tomam toneladas de leite todos os dias durante a vida toda. Na Índia o leite da vaca não é para os bezerros mas sim para os “bezerros de 2 pernas”.

Observe como Gandhi passa longos períodos bebendo leite e depois pára, depois volta a beber e pára..... A verdade é que racionalmente falando Gandhi admite no livro que leite de vaca foi feito para os filhos das vacas (bezerros) e o leite humano para os filhos dos humanos. Leite é para a fase em que somos bebês e não é um alimento apropriado para adultos, mas mesmo assim, ele não consegue resistir e admite que gosta muito de tomar leite.

“I was a cruelly-kind husband. I regard myself as her teacher, and so harassed her out of my blind love for her.” Aqui Gandhi admite que era cruel para com a esposa pois se via como seu professor e a perseguia com seu amor cego.

Ele obrigava a esposa a limpar não somente as fezes (latrina) da família como também de outras pessoas que moravam na casa.

Tem uma cena no filme GANDHI a este respeito. A latrina na verdade é um buraco no chão que quando enche, deve ser esvaziado, ou seja, retira-se a bosta velha e fétida e joga-se fora, esvazia-se o buraco, para poder utilizar novamente. Outro tipo de latrina é como se fosse uma cadeira com um pinico no meio, quando o pinico enche, joga-se fora as fezes e urina e recoloca-se o pinico no lugar (no buraco no meio da cadeira).

Gandhi mudou depois de uma certa idade e parou de abusar psicologicamente da esposa, mas foram anos de sofrimento e abuso emocional que Kasturba agüentou. Hoje ela é nome de rua aqui em Delhi e este é mais um exemplo de que Gandhi foi uma metamorfose ambulante.

FOTOS: Gandhi com o uniforme do Indian Ambulance Corps que ele mesmo formou para participar da guerra do Boer na Africa do Sul; e com sua santa esposa Kasturba, sofredora silenciosa das loucuras do marido excentrico.

Aguarde continuação...

Om Shanti

3 comentários:

  1. Acho que o dito "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço" se aplica muito bem ao Gandhi.Como pode uma pessoa pregar a não violência e ser tão violento para com a própria família?

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  2. Olá Sandra, ele afirmava isso mais tarde, esta coisa de fazer algo e em seguida mudar e tomar outra postura, menos radical. Creio que este era o seu processo de crescimento acelerado. Gandhi foi uma pessoa que praticav, isto é aplicava em sua vida, aquilo que acreditava.

    Ele afirmou várias vezes: Em minha busca á verdade, tenho mudado de opinião reiteradas vezes.
    Ou seja abandonava velhos conceitos, e aceitava outros, os quais renegara antes. E isto foi uma prova de sua determinaçãõ, e humildade.

    Om shanti

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  3. estou acompanhando desde o começo

    muito bom!

    :)

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