19 de janeiro de 2008

Autobiografia de Benazir Bhutto - Parte 5



Namaskar

Continuando com a autobiografia de Benazir Bhutto, Daughter of the East, An Autobiography.

Em janeiro de 1980 em detenção em Al-Murtaza o ouvido de Benazir mais uma vez voltou a doer intensamente. Um medico do regime militar veio vê-la mas disse ser somente imaginação dela. Somente mais tarde ela veio a saber que estava com uma infeção no mastoide que lentamente estava derretendo os delicados ossos do seu ouvido e causando-lhe surdez parcial.

Sunam, a irmã de Benazir quebrou com a tradição do casamento arranjado e teve um “Love marriage” (casamento por amor), ou seja, casou com quem ela quis e não com quem seus pais escolheram para ela. No entanto, Sunny Bhutto nunca foi engajada a política.

Em 7 de marco de 1981, Benazir foi presa novamente pela n-esima vez. Desta vez coloram-na em uma cela só de grades, sem paredes, como se fosse uma jaula, em uma delegacia de policia. Fazia muito frio e Benazir não tinha nenhum agasalho consigo e ela também não recebeu nenhuma coberta. Uma policial com pena lhe emprestou um par de meias mas na manha seguinte, temendo represália de seus superiores, pediu as meias de volta. Benazir não conseguia dormir, tremia de frio e seus dentes batiam involuntariamente. Todos os ossos do corpo doíam e assim foi por 5 dias consecutivos.

Anistia Internacional estimou que cerca de 6 mil pessoas foram presas pelo regime militar ditatorial em marco de 1981 no Paquistão.

Um avião do PIA (Pakistan International Airline) havia sido seqüestrado no dia 2 de marco e segundo o general Zia, todos as pessoas envolvidas com atividades políticas eram suspeitas; e assim mandou prender todos sem exceção, incluindo Benazir Bhutto e sua mãe.

Benazir não tinha roupas para se trocar, não tinha pente, escova de dentes, nada! Ela estava tomando diariamente uma medicação para problemas femininos, mas também teve que ficar sem seu remédio pois não havia um medico militar com quem ela pudesse falar. Ela foi proibida de contatar seu advogado e não tinha direito se quer a fazer nenhuma ligação telefônica.

Após 5 dias na cela/jaula, Benazir foi colocada em um avião juntamente com cinco policiais. Foi no avião que ela teve acesso a um jornal e pode então saber o que estava se passando. Com horror e surpresa Benazir leu que os seqüestradores do avião PIA haviam matado um dos passageiros e haviam primeiro voado para o Afeganistão e depois para a Síria. O jornal acusava o grupo Al-Zulfikar pelo seqüestro do avião, informava que a sede do grupo era em Kabul no Afeganistão e que Mir (irmão de Benazir) era o líder do grupo!!!

Benazir foi levada para a cadeia de Sukkur onde ficou meses em total isolamento. Os militares retiraram todos os prisioneiros de Sukkur e transferiram para outras cadeias, para terem certeza de que Benazir ficaria totalmente incomunicável.

Quando li isso cheguei a dar risada, eh ridículo para um general do exercito como Zia temer tanto uma mocinha de 26 anos de idade sem nenhuma experiência política previa. Benazir nunca havia se candidatado a nada, nunca concorrera a nenhum cargo, ela ainda estava estudando. Como os homens são covardes e temem as mulheres!!!! Um general do exercito, o presidente de um pais, com medo de uma menina de 26 anos. Patético!! Covarde!!!

Finalmente veio a tona o motivo da prisão indevida e o isolamento de Benazir Bhutto, Zia queria acusa-la, assim como sua mãe, pelo seqüestro do avião da PIA. Ele queria uma desculpa para poder condena-las a morte assim como fez com o pai de Benazir. Seria muito conveniente ao general Zia se ele pudesse matar todos os Bhutto. Assassino!!!!

Para passar o tempo Benazir escrevia sobre sua vida com letras minúsculas em um caderno de anotações. Certa vez ela pediu ao superintendente da cadeia: Can you bring me Time or Newsweek? Ao que ele respondeu: They are communist publications and are not allowed.” Benazir tentou explicar que as revistas não eram comunistas mas sim do centro do capitalismo do mundo, dos EUA, mas o superintendente respondeu: “They are communst.”

Olha, o que acontece eh o seguinte, a maioria das pessoas não em estudo no Paquistão, ainda mais ha 30 anos atras. Como a revista Time e Newsweek são escritas em inglês, os policiais não sabem o que esta escrito pois não falam inglês, assim sendo, se o chefe deles ou o general do exercito lhes dissesse que determinado jornal ou revista era comunista, eles acreditavam pois a obrigação de um militar eh acreditar e cumprir as ordens de seu superior. Na verdade, o grande problema do Paquistão sempre foi e ainda eh a enorme falta de estudo de sua população.

Durante os vários meses de prisão Benazir começou a sofrer de anorexia nervosa, ela parou de comer e se via gorda apesar de estar pele e osso. Preocupados que ela morre antes de ser julgada levaram-na para a cidade de Karachi onde uma medica lhe disse que estava sofrendo de câncer uterino. Sem falar mais nada para Benazir ou dar-lhe a menor satisfação, no dia seguinte levam-na a um hospital publico em Karachi e fazem-lhe uma cirurgia. No mesmo dia levam-na novamente para a prisão de Karachi e menos de 24 horas depois colocam Benazir no avião e de volta a Sukkur. Benazir fraca da anorexia e da cirurgia perde a consciência e só acorda muitas horas depois já em sua cela e ouve alguém dizendo: “She is alive. She shouldn’t have been moved so soon.” A medica que fez a cirurgia disse para que não a movesse e a deixasse descansar por 48 horas, mas os policiais não quiseram saber e a moveram e a puseram num carro depois num avião e novamente num carro ate chegar em Sukkur.

No dia 28 de abril de 1981, Mir, irmão de Benazir, foi colocado na lista de ‘mais procurados’ pela policia do Paquistão, acusado de ser o líder do grupo Al_Zulfikar, que segundo a policia, era o grupo responsável pelo seqüestro do avião da PIA e pela bomba no estádio de esportes.

Após 4 meses de sofrimento Benazir estava ficando desesperada, ela queria saber noticias de sua mãe que também estava presa, queria poder conversar com alguém, seu isolamento era absoluto e sua solidão também. Em desespero, Benazir começou a fazer uma “macumba” muçulmana e confesso que fiquei surpresa em saber que ate os islâmicos tem suas “macumbas”.

A “macumba” islâmica deve ser feita todos os dias por pessoas presas e na ultima quarta-feira a porta da prisão deve se abrir.

Benazir levou a macumba islâmica a serio e fez todos os dias com fé e devoção. Qul Huwwa Allahu Ahad” (Ele eh o Deus único) Benazir lia a 112 surah do Alcorão, recitando o verso 41 vezes, então respirando sobre um copo com água e ....... não vou dar aqui a macumba islâmica completa pois vai que alguém resolve fazer e da certo! Não quero ser responsável pela saída de nenhum criminoso da cadeia! :)

Por incrível que pareça, a macumba muçulmana deu certo e na quarta quarta-feira a porta da cela se abriu e sem dizer nada a Benazir, levaram-na para visitar sua mãe que estava presa na delegacia central de Karahi!

Mais uma vez Benazir fez a macumba alcoranica e desta vez foi sua mãe que foi libertada pois estava com tuberculose e vomitando sangue.

Pela terceira vez Benazir fez a macumba alcoranica e mais uma vez a porta de sua cela abriu na 4ª quarta-feira, mas desta vez ela foi transferida para a prisão de Karachi. Puseram Benazir na mesma cela que antes estava sua mãe.

Na prisao de Karachi a cela de Benazir assim como todo o bloco em que ela estava isolada não tinha luz a noite (de proposito). Benazir comecou a ouvir a noite sons de passos, barulhos de latas, vozes susurrando e certa vez ouviu como se alguem tivesse pego sua marmita de comida que era de lata e tivesse jogado-a contra a parede do lado de fora de sua cela. Benazir comentou com a velha policial que tomava conta de seu corredor e a velha mulher lhe disse que era chur-ayle, o espirito de uma mulher cujos pes sao voltados para tras.

Como os sons noturnos continuavam Benazir reclamou para o superintendente da prisao que lhe disse que ela estava imaginando coisas pois em sua ala so havia ela, isolada, e mais ninguem. Em seguida ele explicou que a ala onde Benazir estava havia sido construida em cima de um phansi ghat onde antigamente os ingleses enforcavam os prisioneiros.

Benazir comecou a rezar pelas almas que haviam sido enforcadas e depois de alguns meses os sons foram diminuindo e pararam.

Fotos: Benazir Bhutto

Om Shanti Om

Um comentário:

  1. Oi Sandrinha, é incrivel como o sofrimento muitas vezes dá mais força as pessoas. O que Benazir passou não foi brincadeira e ela ainda saiu de cabeça erguida e decidida a ajudar o Paquistão. Cada vez admiro mais essa mulher!
    Beijos no coração Om Shanti

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