10 de janeiro de 2008

Japão olha para a Índia para melhorar o ensino


Namaskar

Leia a reportagem abaixo.

Japão olha para a Índia para melhorar o ensino

Martin Fackler
Em Mitaka, Japão


Apesar da melhora da economia, o Japão está atualmente sofrendo uma crise de confiança em relação à sua habilidade de competir com seus rivais asiáticos emergentes, China e Índia. Um resultado é a crescente febre por ensino indiano neste país obcecado por modas.

O boom indiano reflete a insegurança de muitos japoneses em relação às escolas de seu país, que antes produziam estudantes que consistentemente figuravam no topo dos testes internacionais. Mas agora muitas pessoas daqui estão à procura das lições da Índia, o país visto por muitos aqui como a superpotência mundial ascendente em educação.

As livrarias estão repletas de títulos como "Exercícios Aritméticos Indianos Extremos" e "Os Segredos Desconhecidos dos Indianos". Os jornais publicam reportagens de crianças indianas memorizando tabuadas até 99 vezes 99, em comparação à exigência relativamente complacente do ensino básico de saber até nove vezes nove.

E as poucas escolas indianas internacionais do Japão estão informado um aumento no número de famílias japonesas interessadas em matrículas.

No Little Angels English Academy & International Kindergarten, http://www.angelsenglish.com/index-1.html os livros são da Índia, a maioria dos professores do Sul da Ásia e os cartazes de sala de aula retratam animais saídos dos contos indianos, incluindo elefantes dançando em turbantes com plumas. Os alunos do jardim de infância pintam até mesmo mapas da Índia nas cores laranja e verde de sua bandeira.

A Little Angels fica localizada nesta cidade vizinha de Tóquio (Mitaka), onde apenas um de seus 45 alunos é indiano. A maioria é japonês.

A idéia de ver outro país asiático como modelo em educação, ou em quase qualquer outra coisa, seria impensável há alguns poucos anos, disseram especialistas em educação e historiadores.

Grande parte do Japão há muito desprezava o restante da Ásia, se orgulhando de ser o país mais avançado da região. De fato, o Japão dominou o continente por mais de um século, primeiro como potência imperial e mais recentemente como a primeira economia daqui a atingir os níveis do Ocidente de desenvolvimento econômico.

Mas nos últimos anos, o Japão foi se tornando cada vez mais inseguro, tomado pelo medo de ser ofuscado pela Índia e pela China, que estão rapidamente ganhando peso econômico e sofisticação. O governo japonês tentou preservar a dianteira tecnológica do Japão e fortalecer suas forças armadas. Mas os japoneses foram forçados a abandonar sua indiferença tradicional em relação à região.

De repente, o Japão está começando, mesmo de forma contrariada, a demonstrar um novo respeito por seus vizinhos.

"Até agora, os japoneses viam a China e a Índia como atrasadas e pobres", disse Yoshinori Murai, um professor de culturas asiáticas da Universidade Sophia, em Tóquio. "À medida que o Japão perde a confiança em si mesmo, sua postura em relação à Ásia está mudando. Ele começou a ver a Índia e a China como países com algo a oferecer."

Na educação, o respeito do Japão cresceu em proporção aparentemente direta ao seu desempenho inferior ao de seus rivais asiáticos nos testes internacionais. No mês passado, um grito nacional de alarme ocorreu após o anúncio pela Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica de que em uma avaliação internacional de matemática, o Japão caiu do primeiro lugar em 2000 para o 10º lugar, atrás de Taiwan, Hong Kong e Coréia do Sul. De segundo em ciência em 2000, o Japão caiu para o sexto lugar.

Apesar de a China provocar mais preocupação aqui como adversária política e econômica, a Índia despontou como o país a ser vencido na rivalidade mais benigna em torno da educação. Em parte, isto reflete a imagem da China aqui como uma fabricante barata e imitadora tecnológica. Mas o sucesso da Índia no desenvolvimento de software, negócios de Internet e setores de conhecimento intensivo nos quais o Japão tem fracassado em conseguir avanços provocou mais do que um toque de inveja.


Mais incômodo para muitos japoneses é o fato de muitos aspectos da educação indiana que agora elogiam serem semelhantes àqueles que antes tornaram o Japão famoso por sua ética de trabalho e disciplina: aprender mais em uma idade mais nova, uma maior dependência da memorização e um maior foco no básico, particularmente em matemática e ciência.

Os padrões mais exigentes de educação da Índia estão aparentes no Little Angels Kindergarten e são o principal motivo para sua popularidade. Seus alunos de 2 anos já são ensinados a contar até 20, os de 3 anos são introduzidos aos computadores e os de 5 anos aprendem a multiplicar, solucionar problemas matemáticos e a escrever ensaios de uma página em inglês -tarefas que a maioria das escolas japonesas não ensinam até pelo menos a segunda série.

De fato, as ansiedades do Japão com o declínio de sua competitividade lembram a insegurança de outro país há duas décadas, quando o Japão estava ascendendo economicamente.

"O interesse do Japão em aprender com a educação indiana parece muito o interesse americano em aprender com a educação japonesa", disse Kaoru Okamoto, um professor especializado em política educacional do Instituto Nacional de Pós-Graduação para Políticas de Estudos, em Tóquio.

Como muitas coisas novas aqui, o interesse em ensino ao estilo indiano se tornou uma moda social, com todos repentinamente atrás de um ao mesmo tempo.

O ensino indiano é um assunto freqüente em fóruns públicos, de programas de entrevista a conferências sobre educação. Livros populares alegam revelar os segredos indianos para multiplicação e divisão de números com múltiplos dígitos. Até mesmo o Ministério da Educação do Japão, notoriamente conservador, começou a discutir métodos de ensino indianos, disse Jun Takai, da divisão de assuntos internacionais do ministério.

Pais ansiosos começaram a tentar matricular seus filhos nas cerca de meia dúzia de escolas indianas do Japão, na esperança de lhes dar uma vantagem no altamente competitivo vestibular universitário.

Em Tóquio, as duas maiores escolas indianas, com cursos da pré-escola ao ensino médio, principalmente voltadas aos indianos que vivem no país, receberam um aumento repentino de pedidos de matrícula por parte dos pais japoneses desde o ano passado.

A Global Indian International School disse que 20 de seus cerca de 200 alunos atualmente são japoneses, com tamanha procura por parte de pais indianos e japoneses que ela está construindo uma segunda unidade na cidade vizinha de Yokohama.

A outra, a India International School do Japão, acabou de expandir para 170 alunos no ano passado, incluindo 10 japoneses. Ela já tem planos para uma nova expansão.

"Nós sentimos um interesse bastante elevado por parte dos pais japoneses", disse Nirmal Jain, o diretor da India International School.

O boom provocou o efeito colateral de tornar muitos japoneses um pouco mais tolerantes em relação a outros asiáticos.

A fundadora da escola Little Angels, Jeevarani Angelina, uma ex-executiva de companhia de petróleo de Chennai, Índia, que acompanhou seu marido ao Japão em 1990, disse que inicialmente teve dificuldade em persuadir os proprietários a alugarem um espaço para uma mulher indiana abrir uma escola. Mas agora, o fato de ela e três de seus professores em tempo integral serem asiáticos não-japoneses é um argumento de venda para a escola.

"Quando comecei, ela era a primeira escola de língua inglesa voltada para asiáticos, não caucasianos", ela disse, se referindo à longa presença aqui de escolas internacionais americanas e européias.

Diferente de outras escolas indianas, Angelina disse que a Little Angels era voltada basicamente para crianças japonesas, para solucionar as deficiências que encontrou quando enviou seus filhos para um jardim de infância japonês.

"Eu tive sorte porque comecei quando teve início o boom do ensino indiano", disse Angelina, 50 anos, que atende pelo nome Rani Sanku aqui por ser mais fácil para os japoneses pronunciarem (Sanku é o sobrenome de seu marido.)

Angelina adaptou o currículo ao Japão adicionando mais atividades em grupo, reduzindo a memorização e omitindo a história indiana. Encorajada pelo sucesso da pré-escola, ela disse que planeja abrir um escola primária ao estilo indiano no próximo ano.

Os pais estão entusiasmados com os padrões mais rigorosos da escola.

"Meu filho está em um nível mais elevado do que o de outras crianças japonesas da mesma idade", disse Eiko Kikutake, cujo filho Hayato, 5 anos, freqüenta a Little Angels. "O ensino indiano é realmente incrível! Isso não seria possível em um jardim de infância japonês."

Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte: UOL Noticias

Foto: http://www.angelsenglish.com/index-1.html

Incredible India!

Om Shanti OM



4 comentários:

  1. Saudações, Sandra!

    Há muito tempo não falo contigo e talvez seja esta a primeira vez que comento aqui.

    Os méritos indianos realmente deveriam ser copiados pelo Japão.

    Mas, convenhamos, decorar tabuada até 99 não é mérito algum. É estupidez. O importante é saber até 9 x 9 e depois saber fazer bem as multiplicações, que exigem até 9 x 9, no máximo. Mais que isso, fora algumas multiplicações fáceis, vai no cálculo manual ou pela calculadora.

    Continue com o seu blog, é sempre um estímulo vir aqui.

    No Brasil tudo continua quente, mas pelo menos nessa época a Índia dá um refresco...

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  2. Oi Sandra,
    Que incrível maneira de pensar!!! Será que algum dia os pais brasileiros ou mesmo a sociedade brasileira vai ter essa visão de mundo e de progresso?
    Trabalhei por 26 anos em uma escola privada, católica, em que o aluno manda cada vez mais, os pais não aceitam professores que "apertam" e onde não se exige mais que o aluno se empenhe e que se dedique, tudo muito superficial (aprofundar para que? – a família não quer problema, os professores entregaram os pontos, a escola quer que todos sejam aprovados). Os alunos saem literalmente como analfabetos funcionais, são admitidos em faculdades também privadas, que nem processo seletivo fazem e depois esses mesmos alunos saem como profissionais despreparados para enfrentarem as exigências do mercado de trabalho. Se ricos, vão trabalhar com seus pais, se não, vão se submeter a empregos cujos salários são baixos (claro, eles não estão aptos).
    Com isso o mercado de trabalho se auto-regula, nivelando por baixo todas as categorias profissionais, passando uma idéia, subliminarmente, de que não vale a pena estudar para se ganhar tão pouco.
    Esse quadro que descrevo, com raríssimas exceções, é o que acontece na maioria das escolas privadas aqui no Brasil.
    Deixo para você imaginar como estão as escolas públicas!!!!

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  3. Oi Sandrinha, para mim, o Japão já teve sua época de brilho, agora é a vez da Índia. Com certeza no futuro acontecerá com outros países. Essa é a lei, hoje no topo amanhã na base da montanha. Os indianos tem que aproveitar esse momento e nós aprenderemos com eles, porque amanhã será a nossa vez. Beijos no caração OM Shanti Elci

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  4. Olá eu sou Brasileira e cresci no Japão!
    Para falar a verdade nem queria comentar muito porque não conheco o ensino indiano..
    Mas só sei que estudei desde de pequena e estou terminando agora o segundo grau, e não nego que o modo de ensino enfraqueceu..
    Tipo como antes tinha aulas normais aos sabados e hoje não..coisa que já foi decidido que irá voltar..e a matematica enfraqueceu realmente!
    Agora nós aqui passamos horas dentro da escola acordamos 6 da manhã para chegar 7 e comecar o aquecimento..( todo aluno pode escolher o esporte que a escola oferece e praticalo de manhã e de tarde.)e as 8:30 até 4:30 na escola e tendo aulas de várias coisas como culinaria e até administração.. das 5:00 até as 6:30 esporte!
    Ah e não pense que depois de um dia cansativo vamos para casa, vamos para o juko , é onde os mais velhos nos ensina a lição de casa e a materia em que temos dificuldade é tipo uma banca mais não tem cadeira temos que ficar sentado no chão e se errar leva bronca..é horrivel e tem também o kumon mais muitos pais preferem colocar seus filhos no juko!
    Muito obrigada pela reportagem..!
    Ah se você achou rigido ou cansativo procure saber a historia dos sul coreanos!
    Bjão Sandra!

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