8 de fevereiro de 2008

Experiências da Katarina na Índia - Parte 1


Relato de um encontro com um senhor muito cativante num trem:
Entrei no trem e me acomodei num de seus vagões. Sempre há uma dificuldade
inicial para se estabelecer no trem, pois é freqüente que os indianos sentem
em assentos que não são os seus, requerendo que nos dirijamos a eles para
que possemos enfim ter nossos devidos lugares. Neste processo tive o imediato
apoio de um senhor em meu vagão, o que me tranqüilizou, pois era alguém de
fácil diálogo e que poderia nos ajudar na lida com os demais tripulantes do
trem. Com a sua ajuda, logo estávamos todos bem acomodados.
Sua aparência era: forte, cabelos e barba longos e brancos.
Em termos de jeito, senti logo uma conexão entre a gente, por ele ser falante como
eu (risos...) e transbordante de energia no contato com o outro. Assim como eu,
este senhor usa a meditação para "acalmar" um pouco tamanha atividade. Porém, enquanto
eu só faço uso desta prática de forma "programada" no Centro Zen do Recife, este
simpático indivíduo me surpreendeu quando "parou para meditar" (literalmente!) em
em meio(!) (risos...) a um papo animado nosso. A razão: se emocionou ao me relatar
um de seus encontros em pessoa com o Osho (foi devoto do Osho). E dado que
ele "apagou" em profunda meditação (inclusive ficando em postura de lótus no
banco do trem!) ao meu lado, só me restou seguir seu exemplo, ao menos
tentando silenciar por pouco mais de meia hora, quando, enfim, ele sai de seu
"transe" e retoma seu papo animado comigo.

Este momento com este ser tão único, que achei fantástico, foi decididamente
um dos que mais me tocou espiritualmente falando. Espero que a imagem
desta divertida criatura, que estou disponibilizando para vocês, possa lhes dar
uma idéia da sabedoria, paz e alegria que senti e presenciei a seu lado. Por fim,
divido com vocês um de seus poucos relatos pessoais (pois não me falou seu
nome, tampouco me passou seu e-mail, solicitado por mim, revelando-me que
havia chegado a hora do desapego, inclusive de seus familiares): vivia com muito
pouco dinheiro, só para o necessário, viajando por cidades na Índia para realizar
contribuições sociais e "treinava", através da meditação, para chegar a um estado
que denominou de "that", por ser complexo de se nomear (para evitar
"limitações") e me forneceu apenas duas características para tal: ausência de esforços
e onipresença.
Diante do aviso inesperado da chegada a meu destino, despeço-me
do meu amigo, com palavras apressadas e um inglês mal formulado, saudando-o:
"I hope you get to meet "that" and I will be there with you". E no último instante
em que nossos olhos se cruzaram, refletiam sorrisos ao som de gargalhadas
recíprocas. E percebo, logo após, que sua intenção de desapego não funcionava
para mim: desde o primeiro momento em que nos percebemos ficou registrado
para sempre em minha mente e em meu coração o nosso encontro. Revivo-o nas
lembranças com um saudosismo de ter sido gratificante e não poder reprogramar
o "bis" (reencontro). Restando apenas a reflexão de que por trás da espiritualidade
e arte divinamente bela deste povo, estão as pessoas que lhes dão "vida".

Ana Katarina Campelo

Foto: Katarina e o senhor do trem

Incredible India!

Om Shanti

2 comentários:

  1. Katarina..

    Muito boa a sua experiencia, até demonstra que não é em todo lugar da India que as mulheres não podem viajar sózinhas.

    Nas cidades mais afastadas, creio que situaçõeas como a sua possam ser mais vividas.

    Om Shanti

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  2. Oi Sandrinha lindo depoimento esse, me fez lembrar de uma passagem do livro de Yogananda que estou lendo: "A Índia, materialmente pobre durante os dois últimos séculos, ainda possui um lastro inesgotável de riqueza divina. "Arranha-céus" espirituais podem ocasionalmente ser encontrados, à beira do caminho, até por homens mundanos como o policial." ou como nós... Beijos no coração OM Shanti

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