11 de abril de 2013

Depoimento da D.D.

Namaste

Fique hoje com o depoimento da D. D.


Oi tudo bem.

Primeiramente, quero deixar claro que sou super fã do Indiagestão.

Li todos os seus posts antes de ir para a Índia (onde passei 2 anos) e agora estou relendo-os.

O interessante é que antes de conhecer a Índia  você lê com uma certa curiosidade e até levanta questionamentos em certos momentos. Entretanto, quando você conhece o país a sua visão é outra. Leio, me divirto e concordo plenamente com os seus posts e sempre penso: “nossa, é exatamente desse jeito”.

Apesar de tudo, a Índia tem um lugar cativo no meu coração: sou fã de Ashwarya Rai Bachchan; adoro chapati; assisto filmes de Bollywood; curtia tomar caldo de cana gelado e comer milho verde cozido em alguma esquina; achava engraçado quando as pessoas me chamavam de madan e pensavam que eu era rica só porque tenho a pele clara e adorava usar o meu lindo sári em eventos especiais. Mas tenho inúmeros motivos para não ter saudades da Índia (acho desnecessário falar sobre eles).

Mudando de assunto, gostaria de compartilhar com você algo que marcou meu tempo na Índia: o romance que vivi com um indiano.

Bom, é o seguinte: frequentávamos o mesmo café. Eu o via quase todos os dias, mas nunca nos falamos. Ele é um cara tímido e eu preferia ficar longe. Depois de 9 meses resolvi arrumar um pretexto pra conversar com ele. A partir daí nos cumprimentávamos sempre que nos encontrávamos, depois ele perguntou meu nome e um belo dia me convidou pra jantar. Aceitei e tudo ocorreu bem.

Depois disso ficamos mais próximos cada dia, ele conheceu meu amigos e se tornou parte do nosso grupo. Um dos nossos programas preferidos era sair pra tomar café da tarde.

Um dia saímos e eu estava com o meu coração aflito por causa de toda a situação, não queria que ele criasse falsas expectativas em relação a mim. Fui sincera, disse que não poderia haver nada entre nós, pois eu era Cristã e ele Hindu (eu jamais considerei a hipótese de me casar com um não cristão, pois desejo compartilhar a minha vida com alguém que professa a mesma fé que eu). Ele me disse que nunca havia pensando sobre isso, que ele era Hindu e que não havia nada que ele pudesse fazer para mudar isso. Resolvemos nos afastar. Porém, o forte sentimento que ardia nos nossos corações falou mais alto do que qualquer decisão racional que pudéssemos tomar. Começamos a nos ver novamente, e ele me pediu em casamento.

Eu comecei a viver um mundo de ilusões, mesmo que no fundo eu sabia que não poderia viver essa historia. Ele acabou ficando muito próximo dos meus amigos, estava em todos os programas. Porém ninguém sabia do que estava acontecendo entre nós. Aos olhos de todos éramos apenas bons amigos.

Rajiv (esse não é o nome verdadeiro dele) era um cara super gente boa, trabalhador (empresário) atraente, bem educado, rico, lindo, sempre pronto pra me ajudar em tudo, enfim quase um príncipe encantado (acho que já estou grandinha -30 anos- o suficiente para saber que príncipe encanto é ilusão). Rajiv é um indiano diferente (eu acredito).

Ele tem 40 anos e nunca se casou. Quando tinha 21 anos rejeitou qualquer tentativa de casamento arranjado por parte da família. Ele tem uma irmã que se casou com um indo- europeu e agora se divorciou. O irmão caçula tem 35 anos, namora e também se recusou a aceitar um casamento arranjado. Os pais decidiram não interferir nas escolhas dos filhos.

O pai é um erudito do Hinduísmo, Brâmane, homem culto e inteligente. Rajiv insistiu  para que eu conhecesse a família dele (ele me apresentou como amiga). Todos foram super simpáticos comigo. Parecia que as coisas estavam tomando um rumo sem volta e as vezes falávamos sobre casamento e filhos. Eu sonhava com isso, mas infelizmente não poderia ser com ele, apesar de estarmos totalmente envolvidos e apaixonados.

Então aconteceu o que eu chamo de provisão divina: tive que retornar ao Brasil as pressas por questões burocráticas.  Os nossos últimos dias juntos foram muito tristes. Eu sabia que nunca mais voltaria a vê-lo. Ele me pediu em casamento novamente. Disse que como presente de casamento me daria uma lua-de-mel pra qualquer lugar do mundo que eu escolhesse! Com  o coração dilacerado recusei.

Deixei o aeroporto aos prantos. Depois de mais de 1 ano ele ainda me escreve dizendo que os dias dele já não são tão coloridos como antes. Eu tenho saudades. Entretanto sei que a nossa única opção era seguir caminhos diferentes.

Para finalizar....quando fui para a Índia, estava totalmente decidida a não me envolver afetivamente com nenhum indiano, mesmo porque o meu contrato de trabalho era de  3 anos e eu queria apenas ter uma experiência na Ásia, não criar raízes. Mas é interessante como na vida, às vezes, algumas coisas fogem do nosso controle. Apesar de tudo, sei que fiz a escolha certa!

Se você achar a minha história interessante pode publicar no blog. Nesse caso, gostaria de ser identificada apenas como D.D. .

Obs.: Quando disse que “nunca considerei a hipótese de me casar com um não cristão” apenas expus minha decisão pessoal. Minha intenção não é emitir juízo em relação a nenhuma outra forma de fé. 


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